sexta-feira, 11 de junho de 2010

A transposição do Rio São Franscisco

-6°- A transposição do Rio São Franscisco

"Esses textos resumem algumas questões pertinentes a transposição do Rio São Francisco, é necessário frisar que eles não são a última palavra nesse assunto e talvez nem os melhores, porém não deixa de ser interessante sua leitura e os possíveis questionamentos que frutificarão depois dela."

TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO:
AGRESSÃO AO POVO BRASILEIRO
Ruy Bruno Bacelar de Oliveira
engeo@engeo.com.br

TV GLOBO E GOVERNO LULA
A grande vedete da TV Globo e do governo Lula é o agrobussiness. Rios inteiros foram contaminados
com agrotóxicos, inúmeras nascentes desapareceram como no oeste bahiano e em nome de um pseudo
progresso estão destruindo os cerrados para o plantio da soja e do eucalipto.
Derrubaram as matas de Correntina e Santa Maria da Vitória . Estão derrubando as de Barreiras e todo o
oeste da Bahia está indo embora numa das maiores catástrofes ecológicas dos últimos anos.
Quem vai assumir a responsabilidade desta tragédia? O governo Lula ou o governo da Bahia? É verdade
que o superávit primário está cada dia maior. Porem a pobreza do povo aumentou e os rios e florestas
estão morrendo.
Agora preparam a transposição do Rio São Francisco.
O BRASIL FRACASSOU NO NORDESTE
O Nordeste brasileiro é uma das regiões com um dos piores IDHS (Índice de Desenvolvimento Humano).
Bilhões de dólares já foram investidos lá e resultaram em nada. A SUDENE fracassou, o DNOCS
também. A CODEVASF idem e outros órgãos e projetos do governo
Uns poucos empresários, políticos e famílias poderosas detém o poder e montaram a famosa indústria da
seca que ninguém consegue desmontar. Dominam a prefeitura, os carros pipas, as cestas básicas e o
auxílio que o governo manda cada ano de seca e se perpetuam no poder por séculos.
A transposição do Rio São Francisco vai aumentar o poder desta máfia.
Além do problema político existe o problema ecológico.
É fácil a transposição de um rio?
TRANSPOSIÇÃO NÃO É SÓ UM PROBLEMA DE ENGENHARIA
Transpor um rio não é somente um problema de engenharia. Não significa tirar água de um lugar e
colocar em outro. Transpor um rio é um problema ecológico de grandes proporções.
Um rio é mais do que água deslocando-se através de uma vala no solo.
Um rio é um ecossistema de natureza bem complexa, formando um conjunto orgânico que tem vida e
onde o todo é mais do que a simples soma das partes. Existe também um relacionamento físico, biológico,
químico, geológico, hidrogeológico e ecológico em todo o espaço situado entre as nascentes até a foz ou
desemboca- dura do rio convivendo em um equilíbrio que só a natureza sabe fazer.
Qualquer que seja o processo de mudança desencadeado no rio, um conjunto de variáveis será afetado,
isto significa dizer que todas as suas partes serão afetadas.
Mas o governo não pensa assim e diz que vai fazer a transposição do São Francisco para salvar o
Nordeste.
SÃO FRANCISCO, UM RIO MORIBUNDO
POLUIÇÃO:
Em uma das muitas viagens que fiz ao São Francisco pude observar que o rio apresenta um intenso
desmatamento nas margens, desmoronamento dos barrancos e poluição.
As fontes poluidoras do Rio São Francisco são as mais diversas: dejetos industriais, rejeitos minerais,
esgotos e lixos das cidades.
A maior parte dos afluentes do rio foram transformados em esgotos. Mais de 470 municípios englobando
vários estados lançam seus esgotos no São Francisco. Os esgotos da cidade de Belo Horizonte, com seus
três milhões de habitantes são lançados no Rio São Francisco. Os rejeitos minerários provenientes de seus
afluentes, carregam as águas do rio com metais pesados. Toneladas de agrotóxicos alimentam o rio e
adoecem o povo que vive em suas proximidades.
ASSOREAMENTO:
O rio está ficando mais assoreado e portanto mais raso. Dezoito milhões de toneladas de solo por ano, que
corresponde a uma área de 10 mil hectares estão sendo arrastados para dentro da bacia hidrográfica
anualmente.
As produções de carvão para a indústria siderúrgica e a implantação de monocultura do eucalipto estão
dizimando os cerrados e secando os afluentes alimentadores do São Francisco.
A redução da vazão do rio de 3 mil e 150 metros cúbicos por segundo para menos de 2000 metros cúbicos
por segundo é conseqüência dos impactos ambientais provocados principalmente pelas barragens
construídas ao longo de sua extensão, que deram origem a uma cunha salina a partir da foz que avança rio
a dentro.
A NASA prever a morte do Rio São Francisco para um futuro próximo.
Levando em conta os fatores citados este desaparecimento poderá ocorrer em 20 a 30 anos ou menos se
for feita a transposição.
A revitalização defendida por setores do governo e posteriormente a transposição não funcionam porque é
um processo lento, devendo custar aos cofres públicos bilhões de dólares em um tempo longo e de
resultados duvidosos.
O governo Lula deseja fazer a transposição muito mais por medidas eleitoreiras do que resolver o
problema da seca.
NO PASSADO TRANSPOSIÇÃO E PROJETOS DE IRRIGAÇÃO NÃO DERAM CERTO
Muitos afluentes menores do Rio São Francisco já morreram.
No Norte de Minas e na Bahia tive oportunidade de observar três de seus afluentes que já morreram ou
estão morrendo por causa da transposição ou descontrole na captação de água para irrigação: os rios
Verde Grande e Gorutuba e o Rio Salitre em Juazeiro na Bahia.
Em âmbito internacional o caso mais assustador é o do Lago (ou Mar) de Aral, na Ásia Central, um corpo
de água doce do tamanho do estado do Ceará. O que aconteceu? Os dois principais rios que o abasteciam
foram desviados para projetos de irrigação por volta do ano de 1960. Com o tempo sua superfície foi
reduzindo. Suas águas tornaram-se salgadas e todas as espécies de peixes desapareceram. Hoje as fotos
mostram navios encalhados em cima de estratos de sal. O Mar de Aral é o maior deserto salgado do
planeta.
Um projeto que fracassou foi o Jaíba da CODESVAF, no Norte de Minas. Mais de 50 % dos solos
irrigados estão em processo acentuado de salinização e a água é cara.
Recentemente o Mar Morto esta se encurtando podendo secar em alguns anos. O motivo é simplesmente a
retirada de água para dessalinização e posteriormente irrigação pelo estado de Israel.
Todos os exemplos que citamos mostram um amplo elenco de efeitos malignos, que não poderão ser
solucionados a curto prazo e a remédio necessita de bilhões de dólares.
E o governo diz que precisa fazer a transposição do Rio São Francisco porque falta água no Nordeste.
ESTADOS NORDESTINOS TÊM ÁGUA EM ABUNDÂNCIA
Em primeiro lugar o estado do Ceará, que necessita de um consumo anual de 54 metros cúbicos. A oferta
é de 215 metros cúbicos. Portanto sobra água.
Em segundo lugar o estado do Rio Grande do Norte dispõe de uma vazão garantida de 70 metros cúbicos
para atender uma demanda de 33 metros cúbicos.
O estado da Paraíba, que é o menos dotado de recursos hídricos, apresenta-se com uma disponibilidade de
32 metros cúbicos para uma demanda de 21 metros cúbicos.
Estão sendo construídas milhares de cisternas e o potencial subterrâneo é fantástico desde que a água seja
dessalinizada.
Não existe portanto déficit hídrico global no Nordeste Setentrional, que justifique o desvio do Rio São
Francisco.
QUEM VAI SE BENEFICIAR DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO?
Grandes empreiteiras de engenharia, exportadores de frutas, pecuaristas, banqueiros e multinacionais da
venda de água e equipamentos de irrigação, adubos e agrotóxicos serão os principais beneficiários deste
projeto megalomaníaco.
Alguns políticos com amigos e terras nas proximidades das estações receptoras também serão
beneficiados.
O desvio de dinheiro e o super faturamento também podem ser aventado desde que vivemos no país da
corrupção.
No exterior BIRD, Banco Mundial, FMI e outros têm interesse no bolo para receber os juros de mais de
20 ou 40 bilhões de dólares que deverão ser emprestados.
E o governo Lula quer desviar o Rio São Francisco para salvar o Nordeste...
Isto é uma agressão ao povo brasileiro.

Transposição do rio São Francisco: um erro imperdoável.
artigo de João Suassuna


transposição do rio São Francisco

Muitos têm-nos perguntado por que somos contrários ao projeto da transposição do rio São Francisco, existindo, no país, exemplos de transposições que deram certo, como aquela realizada no rio Paraíba do Sul, para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro. A resposta a esse tipo de questionamento já foi dada por Alberto Daker, eminente professor catedrático de Hidráulica Agrícola (aposentado), da Universidade de Viçosa (MG), autor de uma obra de significativa importância nessa área, a qual é sugerida como roteiro de estudos por diversas universidades de ensino agrícola espalhadas pelo país. Segundo Daker, existem três condições básicas que justificam a transposição de águas de um rio: existirem uma bacia com muita água sobrando e terras e relevo que não sirvam para irrigação; outra bacia com terras irrigáveis, mas com carência de água e uma relação custo-benefício viável para a realização da obra. Para o caso do abastecimento do Rio de Janeiro, essas alternativas se enquadraram perfeitamente na transposição ali realizada. Já para a transposição do São Francisco, as três não se enquadram, tendo em vista haver demanda por água nas terras cultiváveis próximas ao rio; existir água na região das bacias receptoras, faltando apenas o estabelecimento de uma política eficiente para a sua distribuição e posterior consumo das populações e, por último, faltar sustentação energética e financeira para a execução da obra. Como técnico usuário da obra de Daker, estamos montados nesse tripé há décadas, analisando o projeto da transposição, tendo isso resultado na realização de um expressivo acervo de artigos sobre o tema.

Por outro lado, no cenário político nacional, entendemos que as autoridades têm plena convicção do real significado dessas condições para o processo transpositório, tão bem explicitadas por Daker em sua obra, o que tem sido demonstrado por elas nas campanhas políticas regionais, com o propósito de se conhecer a realidade da região para elaboração das propostas de desenvolvimento. Porém, na nossa ótica, iniciado o projeto da transposição, o presidente Lula, apesar de nordestino e conhecedor desses condicionamentos, tem dado provas de ter-se dobrado às vontades políticas de sua base aliada, notadamente à do Ceará, estado que possui a metade das águas de superfície do Nordeste (cerca de 18 bilhões de m³, distribuídos em mais de duas centenas de açudes), conforme consta no Portal da Secretaria de Recursos Hídricos daquele estado. É a prova inequívoca da pressão política voltada para os interesses do agro e do hidronegócio.

Nordestino também é Hypérides Macedo, ex-secretário de recursos hídricos do estado do Ceará, técnico de primeira linha e um dos responsáveis pelo trabalho bem sucedido que vem sendo desenvolvido naquele estado, de interligação de suas bacias hidrográficas visando o abastecimento das populações rurais, por intermédio da adução de águas das represas cearenses (aliás, essas ações embasaram as conclusões técnicas da reunião promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, no Recife, em 2004, a qual sugeriu a priorização do uso das águas interiores do Semiárido, para o abastecimento das populações). Já assistimos várias conferências de Macedo enfocando esse trabalho e sempre ficamos convencidos de que é possível abastecer as populações nordestinas, de forma mais simples e mais barata, utilizando-se o potencial hídrico local de cada estado. Ocorre que Macedo decidiu calar-se quando das discussões havidas sobre o projeto da transposição, preferindo ficar no anonimato. Pudera: caso se posicionasse a favor do projeto transpositório, poria em dúvida todo o esforço por ele realizado ao mostrar que é possível solucionar, de vez, os problemas hídricos do Semiárido nordestino contando com a adução de suas águas interiores. Uma vez realizada a transposição, as águas do Velho Chico iriam abastecer a maioria das represas utilizadas por ele na realização desse trabalho. Seria negar as suas próprias convicções. Macedo, calado, é atualmente secretário de Infra-Estrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional.

Mesmo diante de alternativas mais promissoras e de custos mais apropriados, a exemplo do Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano, de responsabilidade da Agência Nacional de Águas (ANA), e das propostas de convivência com o Semiárido, coordenadas pela Articulação do Semiárido-ASA Brasil, as autoridades, mesmo assim, iniciaram o projeto da transposição, com a construção dos dois canais de aproximação (nos municípios de Cabrobó e Floresta, em Pernambuco), contando, para isso, com a participação do Exército brasileiro. Este trabalho vem sendo considerado, atualmente, o mais importante no Plano de Aceleração do Crescimento do país (PAC), na área de recursos hídricos.

Visando a divulgação do andamento desse projeto no Semiárido, a Rede Globo Nordeste realizou uma matéria, a qual foi levada ao ar no dia 13 de dezembro de 2008, através do programa Nordeste: viver e preservar. Nela, tivemos a oportunidade de fazer um breve comentário denunciando o agravamento do processo de desertificação ora em curso na região de Cabrobó (PE), por onde irão passar os canais do projeto, e a existência de alternativas de abastecimento hídrico mais viáveis e de custos mais acessíveis, quando comparados àqueles existentes na transposição do São Francisco. No Nordeste, os técnicos ambientalistas já identificaram, quatro núcleos de desertificação (em Irauçuba, no Ceará, na região do Seridó, no Rio Grande do Norte, em Gilbués, no Piauí e em Cabrobó, em Pernambuco), o que vem comprovar o equívoco de graves proporções que está sendo cometido pelo Exército brasileiro na abertura dos canais de aproximação naquela região. Na nossa avaliação o que estão fazendo lá é, apenas e tão somente, o agravamento de um processo de desertificação que se encontra em curso. Na matéria, ficaram muito claros, os abusos causados ao meio ambiente daquela localidade, com montanhas de lenha estocadas e apodrecendo com as intempéries, oriundas de um Bioma que já se encontra em estágio avançado de degradação. Outro aspecto relevante na matéria tratou da participação da Universidade Federal do Vale do São Francisco na sua tentativa de justificar a importância do projeto para o desenvolvimento da região. Segundo foi revelado por um de seus representantes, o conhecimento do Bioma da caatinga, principalmente da biodiversidade da fauna e da flora existentes, justificaria a presença da Universidade naquele local, como entidade responsável pela diminuição dos impactos causados pela obra naquele ambiente seco. Ora, da forma como o assunto foi tratado, parece-nos claramente que o carro está literalmente na frente dos bois. Na nossa ótica, em projetos dessa magnitude, a caatinga deveria ser conhecida em sua plenitude, antes mesmo do início do acionamento das motosserras, sob pena de não haver tempo hábil de se conhecer a biodiversidade do Bioma em questão. O fato é que a caatinga nordestina está virando cinza antes mesmo das tentativas de se conhecê-la. Diante das agressões realizadas, entendemos que está se cometendo um erro imperdoável, de proporções incomensuráveis, e que precisa ser interrompido a todo custo, em benefício da vida no Semiárido. Alternativas existem e podem ser postas em prática, a fim de se minimizarem os estragos já causados pelo projeto na região. A adução de água (uso de tubulações no seu transporte) é uma delas, a qual poderá ser feita com os tubos partindo dos reservatórios que estão sendo construídos no terminal de cada um dos canais de aproximação. Essa operação deverá visar única e exclusivamente o abastecimento humano e dessedentação animal, conforme recomendado no Plano Decenal de uso das águas do São Francisco. Uma vez concretizadas, essas sugestões têm o aval de toda comunidade científica nacional e também satisfazem os reclamos dos movimentos sociais que se têm empenhado na promoção do desenvolvimento de um Nordeste mais justo e solidário.

Recife, 09 de fevereiro de 2009.

João Suassuna – Engº Agrônomo e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, colaborador e articulista do Ecodebate.

Para melhor aprofudamento no assunto:
http://www.fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/fran.html
Transposição de rios:
http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=23537&action=reportagem
Uma Transposição que não deu certo:
http://resistir.info/asia/mar_de_aral.html

Apologia do Profesor

-4°- "Teatro que escrevi em 2007 com intuito de ensinar os meus alunos sobre a dinâmica da Ágora, Sócrates e a Alegoria da Caverna"

APOLOGIA DO PROFESSOR
(Professor: Levi Adriano Nogueira)

Baseada na obra Apologia de Sócrates, Platão, tradução de Maria Lacerda de Moura.
PLATÃO, Apologia de Sócrates. 1ª ed. São Paulo: Escala; 2001.

Personagens

Sócrates
Meleto
Lícon
Anito
Mnemósine
Calíope
Clio
Juízes
Estudante
Professora

Diálogos

-sala de aula-

Professora – Hoje vamos aprender a História da Grécia

Estudante – Poxa, o que, a Grécia, o que eu tenho a ver com ela.

Professora – Você Joãozinho, o que você acha? Você tem algo de semelhante aos gregos.

Estudante – hmm... Deixa eu ver, pera aí.... Não.

Professora – Não Joãozinho, nossa, várias coisas foram os gregos que nos trouxeram o alfabeto, a filosofia, a própria história, e muitas outras coisas tem origem na Grécia.

Estudante – O que! A filosofia, história e para que isso serve?

Professora – Nossa Joãozinho, você não consegue compreender que isso é importante para você.

Estudante – Não.

Professora – Joãozinho essas coisas, ou melhor, História, filosofia e as outras disciplinas, são instrumentos com que você possa compreender a realidade. Não te ensinam isso para você “passar de ano”, essas disciplinas são os meios para que você possa chegar a uma maturidade intelectual tal que possa pensar autonomamente, sozinho.

Estudante – Sei...

Professora – Sim Joãozinho para você sair da caverna e procurar a luz.

Estudante – Vixi! E eu que sempre pensei que morasse em casa, fessora, a senhora está tendo alucinação?

Professora – Não, Joãozinho deixa de ser impertinente, quando falo em caverna eu estou fazendo uma alusão à alegoria da caverna de Platão.

Estudante – Opa, pera aí, agora confundiu tudo, fessora, O que tem haver o Luiz grande, o carnaval e um a prato grande na caverna?

Professora – (risadas) Joãozinho quando falo em alusão quero dizer que estou me referindo vagamente aos escritos de Platão, Platão não é uma prato grande, mas sim um filósofo da Grécia antiga, discípulo de Sócrates, e alegoria da caverna, é uma estória, ou seja, fictícia, contada por Platão.

Estudante – Sim, e...

Professora – Ela é mais ou menos desse jeito:
Em uma caverna viviam alguns homens acorrentados, essa caverna era escura, o único feixe de luz era provocado por uma abertura nessa caverna, esse feixe de luz refletia várias sombras e era aquilo que aqueles homens achavam que existia depois da caverna. Um dia, um desses prisioneiros conseguiu livrar-se daquelas correntes, com muita dor no corpo, devido ao tempo que ficara inerte, pôs-se a andar, conseguiu depois de muito esforço sair por aquela abertura da caverna, e vislumbrou outro Mundo, feliz voltou para caverna, entrou pela abertura, e foi avisar seus outros colegas, sobre o que vira...
E o que você acha que aconteceu Joãozinho?

Estudante – Ah, fessora sei lá eles foram com ele.

Professora – Não Joãozinho debocharam dele e quando ele começou a insistir, chamaram o de louco e o mataram.

Estudante – (risadas) foi um tonto mesmo, se você eu ficaria fora da caverna e nem dava bola para o resto.

Professora – Joãozinho você não tentaria salvar o resto, mostrar ele a luz, a verdade?

Estudante – Não fessora eu quero que ele mais se f...

-a deusa e suas musas-

Estudante, Professora – ahm? Quem são vocês?

Mnemósine, Calíope, Clio, - nós?

Mnemósine – Eu sou Mnemósine, filha de Uranos e Gaia, a deusa da memória, mãe das nove musas.

Calíope – Eu sou Calíope, musa da eloqüência e da poesia épica.

Clio – Eu sou Clio musa da História

Mnemósine, Calíope, Clio, - Estamos aqui para lhe mostrar a trágica História de Sócrates.

-julgamento-

Mnemósine, Calíope, Clio, - Ele foi acusado por três homens.

Mnemósine – Meleto

Calíope – Lícon

Clio - E Anito

Mnemósine, Calíope, Clio, - E também duas foram as acusações.

Mnemósine – perverter a...

Mnemósine, Calíope, - mocidade grega e...

Calíope – recusar o culto...

Calíope, Clio, - aos deuses do Estado...

Clio, - introduzindo entidades demoníacas.

Estudante – quem era esse tal de Sócrates.

Professora – Joãozinho Sócrates é o divisor de águas da História da filosofia, muitos falam que foi a maior dos filósofos.

Estudante – Ahhh.

Mnemósine, Calíope, Clio, - É isso mesmo.

Juízes – Sócrates é acusado de:
Primeiro: recusar culto aos deuses do Estado, introduzindo entidades demoníacas.
Segundo: Persuadir e perverter a mocidade grega

Meleto – É isso mesmo este homem juizes, cuidado com ele, cuidado com sua língua, ele consegue provar, a vocês mesmo que não são vocês, sim homem persuasivo e mentiroso.

Juízes – Ohhhh.

Estudante – Pera aí quem era esse tal “Omelete” “fessora”

Professora – Meleto mocinho, era um jovem, pertencente a uma família de poetas, mas era um poeta medíocre.

Juízes – é isso Sócrates

Mnemósine, Calíope, Clio, Mas esse homem que sempre esteve ao lado da verdade, pôs-se a falar, sem medo.

Sócrates – Então além da outras acusações estou sendo acusado de mentiroso, hmmm, Homem hábil no falar, ardiloso com palavras, é isto Meleto.

Meleto – Sim, é isto.

Sócrates – Juizes, Meleto pediu a vocês precaução com minha fala, mas o poeta é ele, é ele que hábil no falar. E quando me acusastes, prestares bem atenção na eloqüência de seu discurso, como ele tentara os convencer, usando de seu tom de voz e gesticulação hábil. Atenienses, não estou aqui para lhes convencer, estou aqui por algo maior do que simples discursos cheios de pompa, estou aqui pela verdade e falarei o que vier na cabeça, e sim me defenderei bem, mas não por causa de minha oratória, mas sim por que toda mentira desvanece com um sopro de verdade.

Clio – Sócrates sempre dialogou com todos que passavam na ágora, era sua maneira de filosofar, descobrir a verdade.

Estudante – sua maneira de filosofar, descobrir a verdade?

Calíope – Sim, ele usava do método a que ele denominou maiêutica, que significa parto das idéias.

Mnemósine – Pois igual a sua mãe que era parteira, ele trazia a tona o conhecimento do homem.

Estudante – Mas como ele fazia isto?

Mnemósine – Simples ele ia através do dialogo, perguntando... perguntando... Até o individuo por si só descobrir a verdade.

Estudante – Sim

Calíope – Mas voltamos ao julgamento

Sócrates – Senhores tendo deixado claro que não estou para me defender, mas sim pela verdade, vou tentar entender e deixar claro a vocês a verdade sobre as acusações. Bem a primeira acusação é de que tenho Eu recusado o culto aos deuses, introduzindo identidades demoníacas. Então vocês quem me acusam, deixaram bem claro que eu, Sócrates, não cultuo os Deuses? Certo

Anito – Sim, você desrespeita-os.

Sócrates – Ótimo, não cultuo esses deuses, por simplesmente não cultuar ou porque não acredito neles, caros acusadores.

Lícon – Não os cultua, por não acreditar neles, ateu nefasto.

Sócrates – Pois bem, ateniense, aqui eles caem em contradição, todos sabem do que eu faço perambulando por Atenas, dialogando com todos que passam por mim, não faço isso por deleite, mas sim por respeitar os próprios deuses, foram eles que deram a mim essa missão.

Meleto – hahaha, deuses? Atenienses vejam o quão mentiroso e arrogante é Sócrates, usa os nomes dos nossos queridos deuses para ludibriá-los, usurpando dos vossos mais profundos sentimentos.

Sócrates – Não meu caro Meleto, falo aqui uma história verídica. Bem, quando perguntei ao oráculo de Delfos, se existia alguém mais sábio que eu, e a pitonisa respondera que não, eu era o mais sábio de todos, juro a vocês que fiquei assustado, e a partir daquela hora procurei outros homens que considerava mais sábios que eu, para desmentir o que dissera o oráculo. Mas a cada um destes que interrogava, descobria que este na verdade não era sábio, pois se gabava todo de seu título de sábio, e se esquecera de aprender, caindo sempre em contradição.
Vendo isto, povo ateniense, me perguntei: eu que nada sei como sou sábio? Daí que me veio à resposta: por não saber nada, era desta maneira que era sábio. Sim cidadãos de Atenas, era isso que me tornara sábio.
Mas como? Certamente me interrogaram. Simples, tendo consciência de minha ignorância perante o mundo podia muito bem desconstruir todas as inverdades em que a nossa cidade de Atenas está fundada, desde daquele dia até hoje, estou a perambular por essas ruas e através do dialogo mostrar a todos que me ouvem e se ouvem a hipocrisia em que vive nossa cidade.

Juízes – ohhh.

Lícon – Sócrates como ousa insultar o povo dessa cidade, vejam juizes este homem se acha melhor que todos, seu orgulho exacerbado mancha o brilho tão resplandecente de nossos cidadãos.

Sócrates – Não meu caro Anito, o que faço não é por orgulho, mas sim por amor aos deuses e amor a verdade quem dera não precisasse fazer isso, quem dera se a nossa cidade não tivesse manchada pela hipocrisia, quem dera que nossos governantes fossem os heróis de outrora.

Lícon – Não fuja do assunto Sócrates, não nos convenceu, no máximo conseguiu emocionar alguns poucos ingênuos que estão aqui a ouvir esses devaneios ludibriosos seu.

Meleto – Sim, responda a pergunta ardilosos ateu.

Sócrates – Bem, então estou sendo acusado de ateu e introduzir entidades demoníacas. Ótimo, Lícon, existem homens que acreditam em homens e acreditam também que existam coisas humanas?

Lícon – sim, é lógico.

Sócrates – Certamente, seria como o próprio Lícon respondera, ilógico que existam pessoas que acreditam em homens e não acreditam na existência de coisas humanas, então me responda também Anito o que são essas entidades demoníacas, já que me acusastes disso certamente deve saber do que se trata.

Anito – Bem, os demônios são filhos bastardos dos Deuses com as ninfas ou outras mulheres.

Sócrates – Aí esta atenienses, se introduzo entidade demoníacas logicamente acredito em demônios, certo.

Meleto, Lícon, Anito, - Sim.

Sócrates – E se acredito em demônios e estes são filhos de Deuses certamente acredito nos Deuses, sendo assim não sou ateu. Então me respondam por que me acusastes de ateísmo.

Mnemósine – Meleto, Anito, Lícon, começaram a discutir.

Calíope, Clio – Mas Sócrates logo chama atenção destes.

Estudante – pera aí fessora agora que prestei atenção, não existe nenhuma mulher juíza, nenhuma mulher participando do julgamento, por que fessora, para evitar palpite?

Professora – Não Joãozinho, em Atenas somente era considerado cidadão, os Homens nascido nessa cidade-estado, mulheres, estrangeiros e escravos não participavam dos assuntos da cidade.

Estudante – hmmm

Clio – Mas voltamos a História.

Sócrates – Se acalmem grandes cidadãos de Atenas, voltamos e vejamos a última acusação, bem me acusaste de corromper a mocidade grega, hmm. Bem, acusadores, homens de bem, me digam se eu corrompo esses jovens, quem os torna virtuosos? Pois se falam que eu corrompo os jovens, certamente sabem quem lhe faz bem.

Lícon – As leis.

Sócrates – Não o pergunto o que lhe faz bem, mas sim quem lhes faz, não sabem responder?

Anito – Os senadores.

Sócrates – Sim os senadores, quem mais, estes (juizes) não lhe fazem bem?

Meleto, Lícon, Anito – Sim fazem.

Sócrates – E estes (população)

Meleto, Lícon, Anito – Também.

Sócrates – Ótimo então, todos fazem bem, exceto eu, oh, que grande desgraça descobrisse em mim, como fico triste em saber que somente eu sou pernicioso a essa juventude. Bem, deixa de lamentação, continuamos a ver a acusação. Não é verdade Anito, que de todos os cidadãos de Atenas somente alguns poucos sabem como cuidar de cavalos?

Anito – Sim, é claro.

Sócrates – E se aqueles que não possuem essa a habilidade poderiam, se puserem a cuidar deste ser vivo, causar ferimentos a este, sendo estas pessoas perniciosas a ele. Não é?

Anito – Bem... Logicamente.

Sócrates – Correto meu caro Anito, e se isso estender ao resto dos seres vivos, pergunto a você é correto afirmar que existem poucos que podem tornar nossos jovens virtuosos, pois a maioria somente os corromperia?

Anito – Não.

Sócrates – Por que não?

Anito – Porque... Porque.

Meleto – Juizes, Sócrates está tentando os enganar com suas falas.

Sócrates – Está equivocado meu caro Meleto, estou Aqui somente a questionar suas acusações, e mostrar a todos o quão elas são sem fundamento. Agora me diga Meleto, preferes viver entres os bons ou entre os maus?

Meleto – Entre os bons, logicamente.

Sócrates – Sim, certamente, então me responda se estou certo. Os bons fazem o bem a aquele que estão próximo deles e os maus dá mesma forma fazem o mau aos que estão próximo deles, não é?

Meleto – Sim.

Sócrates – Corrompo os jovens, Meleto, voluntariamente ou involuntariamente.

Meleto – voluntariamente.

Sócrates – Me explique então, por que eu, Sócrates cheguei ao grau de ignorância tal que fico próximo a aqueles que corrompo, sendo que estes são perniciosos a mim, como faço isso, e se faço isso devera ser involuntário, não?
Meleto – bem... Não sei... Acho que...

Sócrates – Pare de resmungar Meleto, ora nos dois casos mentistes, e se fosse mesmo o caso de ser involuntário, não merecia ser julgado, mas sim instruindo, pois aqueles que merecem julgamento são aqueles estão cientes do que fazem. Bem cidadãos de Atenas, já me defendi das acusações e sei que provei a todos que estas não procedem.

-a condenação-

Estudante – Nossa, como esse Sócrates era fera, mostro pra todo mundo que seus acusadores estão errados.

Clio – Então mocinho o que você acha que vai acontecer?

Estudante – Só podia ser loira mesmo, ué ele vai ser absolvido?

Calíope – Não meu caro Joãozinho ele vai...

Juízes – Sócrates, por duzentos e vinte votos a seu favor, contra duzentos e oitenta e um a favor dos acusadores, o declaro culpado, mas como a margem de votos contra fora pequena, Sócrates qual a pena que você escolhe?

Estudante – Mas duzentos e vinte mais duzentos e oitenta e um não são quinhentos e um, ali só tem quatro.

Professora - Joãozinho é apenas uma dramatização, e deixa de pergunta difícil.

Mnemósine – Mas veja Joãozinho, o que acontecera com Sócrates.

Estudante – É mesmo ele fora condenado, mas ele que vai escolher a sua pena, agora ele escolhe uma pena molezinha.

Clio – Será? Vejamos o que acontece.

Sócrates – Ateniense, se é para escolher um castigo digno de minha conduta. Durante todos esses anos em Atenas, se é para escolher a minha pena somente por falar a verdade diante de tudo e de todos, peço a vocês cidadãos de Atenas, que trate de mim durante o resto da minha vida no Pritaneu.

Estudante – ahm? E o que é Pritaneu, fessora?

Professora – Pritaneu era um lugar onde ficavam alguns beneméritos da pátria, ou seja, algumas pessoas que fizeram algo de importante para a cidade, lá ele eram alimentados à custa da cidade.

Estudante – hmmm.

Sócrates – Sim povo ateniense, não posso pelos deuses voltar atrás, toda vida dediquei a essa cidade sempre tentando lhe mostrar a verdade. E se vocês pensam que a morte é um castigo, estão errados, vocês é que serão castigados, condenados pela História como aqueles que mataram o justo Sócrates, tolos se vocês esperassem mais algum tempo, pela minha idade avançada o destino iria dar cabo da minha vida, mas não, deram ouvidos a estes falsos acusadores, tolos, se vocês acham que tenho medo da morte, erram novamente, o que tenho medo é de não ser um homem virtuoso, de vender a verdade a qualquer pressão, não compartilho desse mal que sim, este sim corrompe a cidade. Povo ateniense estarei muito melhor morto do que vivendo com mentirosos.

Juízes – ohhh

Sócrates – Povo ateniense, já imaginaram o que é a morte, essa coisa que causa medo a todos, parecendo que todos sabem justamente o que ocorre depois dela, já tentaram entende - lá, bem a morte só pode ser duas coisas:
Se depois de morto tudo acabar como aquelas noites de sono sem sonho, quer coisa mais agradável, vocês não trocariam muitos dias felizes de suas vidas por essas noites, agora imaginem isso eternamente.
Se depois de morto passarei para outro lugar, encontrando outros que já também fizeram essa passagem, quer coisa mais interessante. Imaginem-se dialogando com os grandes juizes, estes sim justos e verdadeiros. Mas chega de falar, já é hora de irmos: eu para a morte, e vós para viverdes. Mas, quem vai para a melhor sorte, isso é segredo, exceto para os Deuses.

Mnemósine, Calíope, Clio – E depois de algum tempo, Sócrates morre bebendo cicuta.

Estudante – Nossa eles matam ele igual os outros da caverna, tudo por que ele falou a verdade.

Professora – Sim Joãozinho, mas esses que o acusaram não tardaram de serem castigados.

Mnemósine – Meleto foi condenado à morte.

Calíope – Anito foi exilado em Heracléia, onde acabou lapidado pelo povo.

Clio – Lícon suicidou-se de desespero, esquecido por todos.

Professora – E até hoje muitos estudantes tratam os professores, como estes gregos trataram Sócrates.

-fim-

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Contra o trabalho

-5°-"Esse texto faz uma crítica no mínimo interessante ao 'Deus Trabalho'"

O domínio do trabalho morto

Um defunto domina a sociedade - o defunto do trabalho. Todos os poderes ao redor do globo uniram-se para a defesa deste domínio: o Papa e o Banco Mundial, Tony Blair e Jörg Haider, sindicatos e empresários, ecologistas alemães e socialistas franceses. Todos eles só conhecem um lema: trabalho, trabalho, trabalho !
Os que ainda não desaprenderam a pensar reconhecem facilmente que esta postura é infundada. Pois a sociedade dominada pelo trabalho não passa por uma simples crise passageira, mas alcançou seu limite absoluto. A produção de riqueza desvincula-se cada vez mais, na seqüência da revolução microeletrônica, do uso de força de trabalho humano - numa escala que há poucas décadas só poderia ser imaginada como ficção científica. Ninguém poderá afirmar seriamente que este processo pode ser freado ou, até mesmo, invertido. A venda da mercadoria força de trabalho será no século XXI tão promissora quanto a venda de carruagens de correio no século XX. Quem, nesta sociedade, não consegue vender sua força de trabalho é considerado "supérfluo" e está sendo jogado no aterro sanitário social.
Quem não trabalha, não deve comer ! Este fundamento cínico vale ainda hoje - e agora mais do que nunca, porque tornou-se desesperançosamente obsoleto. É um absurdo: a sociedade nunca foi tanto sociedade do trabalho como nesta época em que o trabalho se faz supérfluo. Exatamente na sua fase terminal, o trabalho revela, claramente, seu poder totalitário, que não tolera outro deus ao seu lado. Até nos poros do cotidiano e nos íntimos da psique, o trabalho determina o pensar e o agir. Não se poupa nenhum esforço para prorrogar artificialmente a vida do deus-trabalho. O grito paranóico por "emprego" justifica até mesmo acelerar a destruição dos fundamentos naturais, já há muito tempo reconhecida. Os últimos impedimentos para a comercialização generalizada de todas as relações sociais podem ser eliminados sem crítica, quando é colocada em perspectiva a criação de alguns poucos e miseráveis "postos de trabalho". E a frase, seria melhor ter "qualquer" trabalho do que nenhum, tornou-se a confissão de fé exigida de modo geral.
Quanto mais fica claro que a sociedade do trabalho chegou a seu fim definitivo, tanto mais violentamente este fim é reprimido na consciência da opinião pública. Os métodos desta repressão psicológica, mesmo sendo muito diferentes, têm um denominador comum: o fato mundial de o trabalho ter demonstrado seu fim em si mesmo irracional, que tornou-se obsoleto. Este fato vem redefinindo-se com obstinação em um sistema maníaco de fracasso pessoal ou coletivo, tanto de indivíduos quanto de empresas ou "localizações". A barreira objetiva ao trabalho deve aparecer como um problema subjetivo daqueles que caíram fora do sistema.
Para uns, o desemprego é produto de exigências exageradas, falta de disponibilidade, aplicação e flexibilidade dos desempregados, enquanto outros acusam os "seus" executivos e políticos de incapacidade, corrupção, ganância ou traição do interesse local. Mas enfim, todos concordam com o ex-presidente alemão Roman Herzog: precisa-se de um "arranque", como se o problema fosse semelhante ao de motivação de um time de futebol ou de uma seita política. Todos têm, "de alguma maneira", que puxar a carroça, mesmo se ela não existir, e colocar toda energia para arregaçar as mangas, mesmo que não exista nada a ser feito ou somente algo sem sentido. As entrelinhas dessa mensagem infeliz deixam muito claro: quem não encontra a misericórdia do deus-trabalho tem a sua própria culpa e pode ser excluído, ou até mesmo descartado, com boa consciência.
A mesma lei do sacrifício humano vale em escala mundial. Um país após o outro é triturado sob as rodas do totalitarismo econômico, o que comprova sempre a mesma coisa: não atendeu às assim chamadas leis do mercado. Quem não se "adapta" incondicionalmente ao percurso cego da concorrência total, não levando em consideração qualquer dano, está sendo penalizado pela lógica da rentabilidade. Os portadores de esperança de hoje são o ferro-velho econômico de amanhã. Os psicóticos econômicos dominantes não se deixam perturbar em suas explicações bizarras do mundo. Aproximadamente três quartos da população mundial já foram declarados como lixo social. Uma "localização" após a outra cai no abismo. Depois dos desastrosos países "em desenvolvimento" do Hemisfério Sul e do departamento do capitalismo de Estado da sociedade mundial de trabalho no Leste, também os discípulos exemplares da economia de mercado no Sudoeste Asiático desapareceram no orco do colapso. Também na Europa se espalha há muito tempo o pânico social. Os cavaleiros da triste figura da política e do gerenciamento continuam em sua cruzada ainda mais ferrenhamente em nome do deus-trabalho.

(Tradução de Heinz Dieter Heidemann com colaboração de Cláudio Roberto Duarte – Publicado nos Cadernos do Labur – nº 2 (Laboratório de Geografia Urbana/Departamento de Geografia/Universidade de São Paulo. Contatos: Krisis na internet – www.magnet.at/krisis ; e-mail: ntrenkle@aol.com ; Grupo Krisis-Labur-São Paulo: labur@edu.usp.br)