sexta-feira, 11 de junho de 2010

A transposição do Rio São Franscisco

-6°- A transposição do Rio São Franscisco

"Esses textos resumem algumas questões pertinentes a transposição do Rio São Francisco, é necessário frisar que eles não são a última palavra nesse assunto e talvez nem os melhores, porém não deixa de ser interessante sua leitura e os possíveis questionamentos que frutificarão depois dela."

TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO:
AGRESSÃO AO POVO BRASILEIRO
Ruy Bruno Bacelar de Oliveira
engeo@engeo.com.br

TV GLOBO E GOVERNO LULA
A grande vedete da TV Globo e do governo Lula é o agrobussiness. Rios inteiros foram contaminados
com agrotóxicos, inúmeras nascentes desapareceram como no oeste bahiano e em nome de um pseudo
progresso estão destruindo os cerrados para o plantio da soja e do eucalipto.
Derrubaram as matas de Correntina e Santa Maria da Vitória . Estão derrubando as de Barreiras e todo o
oeste da Bahia está indo embora numa das maiores catástrofes ecológicas dos últimos anos.
Quem vai assumir a responsabilidade desta tragédia? O governo Lula ou o governo da Bahia? É verdade
que o superávit primário está cada dia maior. Porem a pobreza do povo aumentou e os rios e florestas
estão morrendo.
Agora preparam a transposição do Rio São Francisco.
O BRASIL FRACASSOU NO NORDESTE
O Nordeste brasileiro é uma das regiões com um dos piores IDHS (Índice de Desenvolvimento Humano).
Bilhões de dólares já foram investidos lá e resultaram em nada. A SUDENE fracassou, o DNOCS
também. A CODEVASF idem e outros órgãos e projetos do governo
Uns poucos empresários, políticos e famílias poderosas detém o poder e montaram a famosa indústria da
seca que ninguém consegue desmontar. Dominam a prefeitura, os carros pipas, as cestas básicas e o
auxílio que o governo manda cada ano de seca e se perpetuam no poder por séculos.
A transposição do Rio São Francisco vai aumentar o poder desta máfia.
Além do problema político existe o problema ecológico.
É fácil a transposição de um rio?
TRANSPOSIÇÃO NÃO É SÓ UM PROBLEMA DE ENGENHARIA
Transpor um rio não é somente um problema de engenharia. Não significa tirar água de um lugar e
colocar em outro. Transpor um rio é um problema ecológico de grandes proporções.
Um rio é mais do que água deslocando-se através de uma vala no solo.
Um rio é um ecossistema de natureza bem complexa, formando um conjunto orgânico que tem vida e
onde o todo é mais do que a simples soma das partes. Existe também um relacionamento físico, biológico,
químico, geológico, hidrogeológico e ecológico em todo o espaço situado entre as nascentes até a foz ou
desemboca- dura do rio convivendo em um equilíbrio que só a natureza sabe fazer.
Qualquer que seja o processo de mudança desencadeado no rio, um conjunto de variáveis será afetado,
isto significa dizer que todas as suas partes serão afetadas.
Mas o governo não pensa assim e diz que vai fazer a transposição do São Francisco para salvar o
Nordeste.
SÃO FRANCISCO, UM RIO MORIBUNDO
POLUIÇÃO:
Em uma das muitas viagens que fiz ao São Francisco pude observar que o rio apresenta um intenso
desmatamento nas margens, desmoronamento dos barrancos e poluição.
As fontes poluidoras do Rio São Francisco são as mais diversas: dejetos industriais, rejeitos minerais,
esgotos e lixos das cidades.
A maior parte dos afluentes do rio foram transformados em esgotos. Mais de 470 municípios englobando
vários estados lançam seus esgotos no São Francisco. Os esgotos da cidade de Belo Horizonte, com seus
três milhões de habitantes são lançados no Rio São Francisco. Os rejeitos minerários provenientes de seus
afluentes, carregam as águas do rio com metais pesados. Toneladas de agrotóxicos alimentam o rio e
adoecem o povo que vive em suas proximidades.
ASSOREAMENTO:
O rio está ficando mais assoreado e portanto mais raso. Dezoito milhões de toneladas de solo por ano, que
corresponde a uma área de 10 mil hectares estão sendo arrastados para dentro da bacia hidrográfica
anualmente.
As produções de carvão para a indústria siderúrgica e a implantação de monocultura do eucalipto estão
dizimando os cerrados e secando os afluentes alimentadores do São Francisco.
A redução da vazão do rio de 3 mil e 150 metros cúbicos por segundo para menos de 2000 metros cúbicos
por segundo é conseqüência dos impactos ambientais provocados principalmente pelas barragens
construídas ao longo de sua extensão, que deram origem a uma cunha salina a partir da foz que avança rio
a dentro.
A NASA prever a morte do Rio São Francisco para um futuro próximo.
Levando em conta os fatores citados este desaparecimento poderá ocorrer em 20 a 30 anos ou menos se
for feita a transposição.
A revitalização defendida por setores do governo e posteriormente a transposição não funcionam porque é
um processo lento, devendo custar aos cofres públicos bilhões de dólares em um tempo longo e de
resultados duvidosos.
O governo Lula deseja fazer a transposição muito mais por medidas eleitoreiras do que resolver o
problema da seca.
NO PASSADO TRANSPOSIÇÃO E PROJETOS DE IRRIGAÇÃO NÃO DERAM CERTO
Muitos afluentes menores do Rio São Francisco já morreram.
No Norte de Minas e na Bahia tive oportunidade de observar três de seus afluentes que já morreram ou
estão morrendo por causa da transposição ou descontrole na captação de água para irrigação: os rios
Verde Grande e Gorutuba e o Rio Salitre em Juazeiro na Bahia.
Em âmbito internacional o caso mais assustador é o do Lago (ou Mar) de Aral, na Ásia Central, um corpo
de água doce do tamanho do estado do Ceará. O que aconteceu? Os dois principais rios que o abasteciam
foram desviados para projetos de irrigação por volta do ano de 1960. Com o tempo sua superfície foi
reduzindo. Suas águas tornaram-se salgadas e todas as espécies de peixes desapareceram. Hoje as fotos
mostram navios encalhados em cima de estratos de sal. O Mar de Aral é o maior deserto salgado do
planeta.
Um projeto que fracassou foi o Jaíba da CODESVAF, no Norte de Minas. Mais de 50 % dos solos
irrigados estão em processo acentuado de salinização e a água é cara.
Recentemente o Mar Morto esta se encurtando podendo secar em alguns anos. O motivo é simplesmente a
retirada de água para dessalinização e posteriormente irrigação pelo estado de Israel.
Todos os exemplos que citamos mostram um amplo elenco de efeitos malignos, que não poderão ser
solucionados a curto prazo e a remédio necessita de bilhões de dólares.
E o governo diz que precisa fazer a transposição do Rio São Francisco porque falta água no Nordeste.
ESTADOS NORDESTINOS TÊM ÁGUA EM ABUNDÂNCIA
Em primeiro lugar o estado do Ceará, que necessita de um consumo anual de 54 metros cúbicos. A oferta
é de 215 metros cúbicos. Portanto sobra água.
Em segundo lugar o estado do Rio Grande do Norte dispõe de uma vazão garantida de 70 metros cúbicos
para atender uma demanda de 33 metros cúbicos.
O estado da Paraíba, que é o menos dotado de recursos hídricos, apresenta-se com uma disponibilidade de
32 metros cúbicos para uma demanda de 21 metros cúbicos.
Estão sendo construídas milhares de cisternas e o potencial subterrâneo é fantástico desde que a água seja
dessalinizada.
Não existe portanto déficit hídrico global no Nordeste Setentrional, que justifique o desvio do Rio São
Francisco.
QUEM VAI SE BENEFICIAR DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO?
Grandes empreiteiras de engenharia, exportadores de frutas, pecuaristas, banqueiros e multinacionais da
venda de água e equipamentos de irrigação, adubos e agrotóxicos serão os principais beneficiários deste
projeto megalomaníaco.
Alguns políticos com amigos e terras nas proximidades das estações receptoras também serão
beneficiados.
O desvio de dinheiro e o super faturamento também podem ser aventado desde que vivemos no país da
corrupção.
No exterior BIRD, Banco Mundial, FMI e outros têm interesse no bolo para receber os juros de mais de
20 ou 40 bilhões de dólares que deverão ser emprestados.
E o governo Lula quer desviar o Rio São Francisco para salvar o Nordeste...
Isto é uma agressão ao povo brasileiro.

Transposição do rio São Francisco: um erro imperdoável.
artigo de João Suassuna


transposição do rio São Francisco

Muitos têm-nos perguntado por que somos contrários ao projeto da transposição do rio São Francisco, existindo, no país, exemplos de transposições que deram certo, como aquela realizada no rio Paraíba do Sul, para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro. A resposta a esse tipo de questionamento já foi dada por Alberto Daker, eminente professor catedrático de Hidráulica Agrícola (aposentado), da Universidade de Viçosa (MG), autor de uma obra de significativa importância nessa área, a qual é sugerida como roteiro de estudos por diversas universidades de ensino agrícola espalhadas pelo país. Segundo Daker, existem três condições básicas que justificam a transposição de águas de um rio: existirem uma bacia com muita água sobrando e terras e relevo que não sirvam para irrigação; outra bacia com terras irrigáveis, mas com carência de água e uma relação custo-benefício viável para a realização da obra. Para o caso do abastecimento do Rio de Janeiro, essas alternativas se enquadraram perfeitamente na transposição ali realizada. Já para a transposição do São Francisco, as três não se enquadram, tendo em vista haver demanda por água nas terras cultiváveis próximas ao rio; existir água na região das bacias receptoras, faltando apenas o estabelecimento de uma política eficiente para a sua distribuição e posterior consumo das populações e, por último, faltar sustentação energética e financeira para a execução da obra. Como técnico usuário da obra de Daker, estamos montados nesse tripé há décadas, analisando o projeto da transposição, tendo isso resultado na realização de um expressivo acervo de artigos sobre o tema.

Por outro lado, no cenário político nacional, entendemos que as autoridades têm plena convicção do real significado dessas condições para o processo transpositório, tão bem explicitadas por Daker em sua obra, o que tem sido demonstrado por elas nas campanhas políticas regionais, com o propósito de se conhecer a realidade da região para elaboração das propostas de desenvolvimento. Porém, na nossa ótica, iniciado o projeto da transposição, o presidente Lula, apesar de nordestino e conhecedor desses condicionamentos, tem dado provas de ter-se dobrado às vontades políticas de sua base aliada, notadamente à do Ceará, estado que possui a metade das águas de superfície do Nordeste (cerca de 18 bilhões de m³, distribuídos em mais de duas centenas de açudes), conforme consta no Portal da Secretaria de Recursos Hídricos daquele estado. É a prova inequívoca da pressão política voltada para os interesses do agro e do hidronegócio.

Nordestino também é Hypérides Macedo, ex-secretário de recursos hídricos do estado do Ceará, técnico de primeira linha e um dos responsáveis pelo trabalho bem sucedido que vem sendo desenvolvido naquele estado, de interligação de suas bacias hidrográficas visando o abastecimento das populações rurais, por intermédio da adução de águas das represas cearenses (aliás, essas ações embasaram as conclusões técnicas da reunião promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, no Recife, em 2004, a qual sugeriu a priorização do uso das águas interiores do Semiárido, para o abastecimento das populações). Já assistimos várias conferências de Macedo enfocando esse trabalho e sempre ficamos convencidos de que é possível abastecer as populações nordestinas, de forma mais simples e mais barata, utilizando-se o potencial hídrico local de cada estado. Ocorre que Macedo decidiu calar-se quando das discussões havidas sobre o projeto da transposição, preferindo ficar no anonimato. Pudera: caso se posicionasse a favor do projeto transpositório, poria em dúvida todo o esforço por ele realizado ao mostrar que é possível solucionar, de vez, os problemas hídricos do Semiárido nordestino contando com a adução de suas águas interiores. Uma vez realizada a transposição, as águas do Velho Chico iriam abastecer a maioria das represas utilizadas por ele na realização desse trabalho. Seria negar as suas próprias convicções. Macedo, calado, é atualmente secretário de Infra-Estrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional.

Mesmo diante de alternativas mais promissoras e de custos mais apropriados, a exemplo do Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano, de responsabilidade da Agência Nacional de Águas (ANA), e das propostas de convivência com o Semiárido, coordenadas pela Articulação do Semiárido-ASA Brasil, as autoridades, mesmo assim, iniciaram o projeto da transposição, com a construção dos dois canais de aproximação (nos municípios de Cabrobó e Floresta, em Pernambuco), contando, para isso, com a participação do Exército brasileiro. Este trabalho vem sendo considerado, atualmente, o mais importante no Plano de Aceleração do Crescimento do país (PAC), na área de recursos hídricos.

Visando a divulgação do andamento desse projeto no Semiárido, a Rede Globo Nordeste realizou uma matéria, a qual foi levada ao ar no dia 13 de dezembro de 2008, através do programa Nordeste: viver e preservar. Nela, tivemos a oportunidade de fazer um breve comentário denunciando o agravamento do processo de desertificação ora em curso na região de Cabrobó (PE), por onde irão passar os canais do projeto, e a existência de alternativas de abastecimento hídrico mais viáveis e de custos mais acessíveis, quando comparados àqueles existentes na transposição do São Francisco. No Nordeste, os técnicos ambientalistas já identificaram, quatro núcleos de desertificação (em Irauçuba, no Ceará, na região do Seridó, no Rio Grande do Norte, em Gilbués, no Piauí e em Cabrobó, em Pernambuco), o que vem comprovar o equívoco de graves proporções que está sendo cometido pelo Exército brasileiro na abertura dos canais de aproximação naquela região. Na nossa avaliação o que estão fazendo lá é, apenas e tão somente, o agravamento de um processo de desertificação que se encontra em curso. Na matéria, ficaram muito claros, os abusos causados ao meio ambiente daquela localidade, com montanhas de lenha estocadas e apodrecendo com as intempéries, oriundas de um Bioma que já se encontra em estágio avançado de degradação. Outro aspecto relevante na matéria tratou da participação da Universidade Federal do Vale do São Francisco na sua tentativa de justificar a importância do projeto para o desenvolvimento da região. Segundo foi revelado por um de seus representantes, o conhecimento do Bioma da caatinga, principalmente da biodiversidade da fauna e da flora existentes, justificaria a presença da Universidade naquele local, como entidade responsável pela diminuição dos impactos causados pela obra naquele ambiente seco. Ora, da forma como o assunto foi tratado, parece-nos claramente que o carro está literalmente na frente dos bois. Na nossa ótica, em projetos dessa magnitude, a caatinga deveria ser conhecida em sua plenitude, antes mesmo do início do acionamento das motosserras, sob pena de não haver tempo hábil de se conhecer a biodiversidade do Bioma em questão. O fato é que a caatinga nordestina está virando cinza antes mesmo das tentativas de se conhecê-la. Diante das agressões realizadas, entendemos que está se cometendo um erro imperdoável, de proporções incomensuráveis, e que precisa ser interrompido a todo custo, em benefício da vida no Semiárido. Alternativas existem e podem ser postas em prática, a fim de se minimizarem os estragos já causados pelo projeto na região. A adução de água (uso de tubulações no seu transporte) é uma delas, a qual poderá ser feita com os tubos partindo dos reservatórios que estão sendo construídos no terminal de cada um dos canais de aproximação. Essa operação deverá visar única e exclusivamente o abastecimento humano e dessedentação animal, conforme recomendado no Plano Decenal de uso das águas do São Francisco. Uma vez concretizadas, essas sugestões têm o aval de toda comunidade científica nacional e também satisfazem os reclamos dos movimentos sociais que se têm empenhado na promoção do desenvolvimento de um Nordeste mais justo e solidário.

Recife, 09 de fevereiro de 2009.

João Suassuna – Engº Agrônomo e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, colaborador e articulista do Ecodebate.

Para melhor aprofudamento no assunto:
http://www.fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/fran.html
Transposição de rios:
http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=23537&action=reportagem
Uma Transposição que não deu certo:
http://resistir.info/asia/mar_de_aral.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário