sexta-feira, 11 de junho de 2010

Apologia do Profesor

-4°- "Teatro que escrevi em 2007 com intuito de ensinar os meus alunos sobre a dinâmica da Ágora, Sócrates e a Alegoria da Caverna"

APOLOGIA DO PROFESSOR
(Professor: Levi Adriano Nogueira)

Baseada na obra Apologia de Sócrates, Platão, tradução de Maria Lacerda de Moura.
PLATÃO, Apologia de Sócrates. 1ª ed. São Paulo: Escala; 2001.

Personagens

Sócrates
Meleto
Lícon
Anito
Mnemósine
Calíope
Clio
Juízes
Estudante
Professora

Diálogos

-sala de aula-

Professora – Hoje vamos aprender a História da Grécia

Estudante – Poxa, o que, a Grécia, o que eu tenho a ver com ela.

Professora – Você Joãozinho, o que você acha? Você tem algo de semelhante aos gregos.

Estudante – hmm... Deixa eu ver, pera aí.... Não.

Professora – Não Joãozinho, nossa, várias coisas foram os gregos que nos trouxeram o alfabeto, a filosofia, a própria história, e muitas outras coisas tem origem na Grécia.

Estudante – O que! A filosofia, história e para que isso serve?

Professora – Nossa Joãozinho, você não consegue compreender que isso é importante para você.

Estudante – Não.

Professora – Joãozinho essas coisas, ou melhor, História, filosofia e as outras disciplinas, são instrumentos com que você possa compreender a realidade. Não te ensinam isso para você “passar de ano”, essas disciplinas são os meios para que você possa chegar a uma maturidade intelectual tal que possa pensar autonomamente, sozinho.

Estudante – Sei...

Professora – Sim Joãozinho para você sair da caverna e procurar a luz.

Estudante – Vixi! E eu que sempre pensei que morasse em casa, fessora, a senhora está tendo alucinação?

Professora – Não, Joãozinho deixa de ser impertinente, quando falo em caverna eu estou fazendo uma alusão à alegoria da caverna de Platão.

Estudante – Opa, pera aí, agora confundiu tudo, fessora, O que tem haver o Luiz grande, o carnaval e um a prato grande na caverna?

Professora – (risadas) Joãozinho quando falo em alusão quero dizer que estou me referindo vagamente aos escritos de Platão, Platão não é uma prato grande, mas sim um filósofo da Grécia antiga, discípulo de Sócrates, e alegoria da caverna, é uma estória, ou seja, fictícia, contada por Platão.

Estudante – Sim, e...

Professora – Ela é mais ou menos desse jeito:
Em uma caverna viviam alguns homens acorrentados, essa caverna era escura, o único feixe de luz era provocado por uma abertura nessa caverna, esse feixe de luz refletia várias sombras e era aquilo que aqueles homens achavam que existia depois da caverna. Um dia, um desses prisioneiros conseguiu livrar-se daquelas correntes, com muita dor no corpo, devido ao tempo que ficara inerte, pôs-se a andar, conseguiu depois de muito esforço sair por aquela abertura da caverna, e vislumbrou outro Mundo, feliz voltou para caverna, entrou pela abertura, e foi avisar seus outros colegas, sobre o que vira...
E o que você acha que aconteceu Joãozinho?

Estudante – Ah, fessora sei lá eles foram com ele.

Professora – Não Joãozinho debocharam dele e quando ele começou a insistir, chamaram o de louco e o mataram.

Estudante – (risadas) foi um tonto mesmo, se você eu ficaria fora da caverna e nem dava bola para o resto.

Professora – Joãozinho você não tentaria salvar o resto, mostrar ele a luz, a verdade?

Estudante – Não fessora eu quero que ele mais se f...

-a deusa e suas musas-

Estudante, Professora – ahm? Quem são vocês?

Mnemósine, Calíope, Clio, - nós?

Mnemósine – Eu sou Mnemósine, filha de Uranos e Gaia, a deusa da memória, mãe das nove musas.

Calíope – Eu sou Calíope, musa da eloqüência e da poesia épica.

Clio – Eu sou Clio musa da História

Mnemósine, Calíope, Clio, - Estamos aqui para lhe mostrar a trágica História de Sócrates.

-julgamento-

Mnemósine, Calíope, Clio, - Ele foi acusado por três homens.

Mnemósine – Meleto

Calíope – Lícon

Clio - E Anito

Mnemósine, Calíope, Clio, - E também duas foram as acusações.

Mnemósine – perverter a...

Mnemósine, Calíope, - mocidade grega e...

Calíope – recusar o culto...

Calíope, Clio, - aos deuses do Estado...

Clio, - introduzindo entidades demoníacas.

Estudante – quem era esse tal de Sócrates.

Professora – Joãozinho Sócrates é o divisor de águas da História da filosofia, muitos falam que foi a maior dos filósofos.

Estudante – Ahhh.

Mnemósine, Calíope, Clio, - É isso mesmo.

Juízes – Sócrates é acusado de:
Primeiro: recusar culto aos deuses do Estado, introduzindo entidades demoníacas.
Segundo: Persuadir e perverter a mocidade grega

Meleto – É isso mesmo este homem juizes, cuidado com ele, cuidado com sua língua, ele consegue provar, a vocês mesmo que não são vocês, sim homem persuasivo e mentiroso.

Juízes – Ohhhh.

Estudante – Pera aí quem era esse tal “Omelete” “fessora”

Professora – Meleto mocinho, era um jovem, pertencente a uma família de poetas, mas era um poeta medíocre.

Juízes – é isso Sócrates

Mnemósine, Calíope, Clio, Mas esse homem que sempre esteve ao lado da verdade, pôs-se a falar, sem medo.

Sócrates – Então além da outras acusações estou sendo acusado de mentiroso, hmmm, Homem hábil no falar, ardiloso com palavras, é isto Meleto.

Meleto – Sim, é isto.

Sócrates – Juizes, Meleto pediu a vocês precaução com minha fala, mas o poeta é ele, é ele que hábil no falar. E quando me acusastes, prestares bem atenção na eloqüência de seu discurso, como ele tentara os convencer, usando de seu tom de voz e gesticulação hábil. Atenienses, não estou aqui para lhes convencer, estou aqui por algo maior do que simples discursos cheios de pompa, estou aqui pela verdade e falarei o que vier na cabeça, e sim me defenderei bem, mas não por causa de minha oratória, mas sim por que toda mentira desvanece com um sopro de verdade.

Clio – Sócrates sempre dialogou com todos que passavam na ágora, era sua maneira de filosofar, descobrir a verdade.

Estudante – sua maneira de filosofar, descobrir a verdade?

Calíope – Sim, ele usava do método a que ele denominou maiêutica, que significa parto das idéias.

Mnemósine – Pois igual a sua mãe que era parteira, ele trazia a tona o conhecimento do homem.

Estudante – Mas como ele fazia isto?

Mnemósine – Simples ele ia através do dialogo, perguntando... perguntando... Até o individuo por si só descobrir a verdade.

Estudante – Sim

Calíope – Mas voltamos ao julgamento

Sócrates – Senhores tendo deixado claro que não estou para me defender, mas sim pela verdade, vou tentar entender e deixar claro a vocês a verdade sobre as acusações. Bem a primeira acusação é de que tenho Eu recusado o culto aos deuses, introduzindo identidades demoníacas. Então vocês quem me acusam, deixaram bem claro que eu, Sócrates, não cultuo os Deuses? Certo

Anito – Sim, você desrespeita-os.

Sócrates – Ótimo, não cultuo esses deuses, por simplesmente não cultuar ou porque não acredito neles, caros acusadores.

Lícon – Não os cultua, por não acreditar neles, ateu nefasto.

Sócrates – Pois bem, ateniense, aqui eles caem em contradição, todos sabem do que eu faço perambulando por Atenas, dialogando com todos que passam por mim, não faço isso por deleite, mas sim por respeitar os próprios deuses, foram eles que deram a mim essa missão.

Meleto – hahaha, deuses? Atenienses vejam o quão mentiroso e arrogante é Sócrates, usa os nomes dos nossos queridos deuses para ludibriá-los, usurpando dos vossos mais profundos sentimentos.

Sócrates – Não meu caro Meleto, falo aqui uma história verídica. Bem, quando perguntei ao oráculo de Delfos, se existia alguém mais sábio que eu, e a pitonisa respondera que não, eu era o mais sábio de todos, juro a vocês que fiquei assustado, e a partir daquela hora procurei outros homens que considerava mais sábios que eu, para desmentir o que dissera o oráculo. Mas a cada um destes que interrogava, descobria que este na verdade não era sábio, pois se gabava todo de seu título de sábio, e se esquecera de aprender, caindo sempre em contradição.
Vendo isto, povo ateniense, me perguntei: eu que nada sei como sou sábio? Daí que me veio à resposta: por não saber nada, era desta maneira que era sábio. Sim cidadãos de Atenas, era isso que me tornara sábio.
Mas como? Certamente me interrogaram. Simples, tendo consciência de minha ignorância perante o mundo podia muito bem desconstruir todas as inverdades em que a nossa cidade de Atenas está fundada, desde daquele dia até hoje, estou a perambular por essas ruas e através do dialogo mostrar a todos que me ouvem e se ouvem a hipocrisia em que vive nossa cidade.

Juízes – ohhh.

Lícon – Sócrates como ousa insultar o povo dessa cidade, vejam juizes este homem se acha melhor que todos, seu orgulho exacerbado mancha o brilho tão resplandecente de nossos cidadãos.

Sócrates – Não meu caro Anito, o que faço não é por orgulho, mas sim por amor aos deuses e amor a verdade quem dera não precisasse fazer isso, quem dera se a nossa cidade não tivesse manchada pela hipocrisia, quem dera que nossos governantes fossem os heróis de outrora.

Lícon – Não fuja do assunto Sócrates, não nos convenceu, no máximo conseguiu emocionar alguns poucos ingênuos que estão aqui a ouvir esses devaneios ludibriosos seu.

Meleto – Sim, responda a pergunta ardilosos ateu.

Sócrates – Bem, então estou sendo acusado de ateu e introduzir entidades demoníacas. Ótimo, Lícon, existem homens que acreditam em homens e acreditam também que existam coisas humanas?

Lícon – sim, é lógico.

Sócrates – Certamente, seria como o próprio Lícon respondera, ilógico que existam pessoas que acreditam em homens e não acreditam na existência de coisas humanas, então me responda também Anito o que são essas entidades demoníacas, já que me acusastes disso certamente deve saber do que se trata.

Anito – Bem, os demônios são filhos bastardos dos Deuses com as ninfas ou outras mulheres.

Sócrates – Aí esta atenienses, se introduzo entidade demoníacas logicamente acredito em demônios, certo.

Meleto, Lícon, Anito, - Sim.

Sócrates – E se acredito em demônios e estes são filhos de Deuses certamente acredito nos Deuses, sendo assim não sou ateu. Então me respondam por que me acusastes de ateísmo.

Mnemósine – Meleto, Anito, Lícon, começaram a discutir.

Calíope, Clio – Mas Sócrates logo chama atenção destes.

Estudante – pera aí fessora agora que prestei atenção, não existe nenhuma mulher juíza, nenhuma mulher participando do julgamento, por que fessora, para evitar palpite?

Professora – Não Joãozinho, em Atenas somente era considerado cidadão, os Homens nascido nessa cidade-estado, mulheres, estrangeiros e escravos não participavam dos assuntos da cidade.

Estudante – hmmm

Clio – Mas voltamos a História.

Sócrates – Se acalmem grandes cidadãos de Atenas, voltamos e vejamos a última acusação, bem me acusaste de corromper a mocidade grega, hmm. Bem, acusadores, homens de bem, me digam se eu corrompo esses jovens, quem os torna virtuosos? Pois se falam que eu corrompo os jovens, certamente sabem quem lhe faz bem.

Lícon – As leis.

Sócrates – Não o pergunto o que lhe faz bem, mas sim quem lhes faz, não sabem responder?

Anito – Os senadores.

Sócrates – Sim os senadores, quem mais, estes (juizes) não lhe fazem bem?

Meleto, Lícon, Anito – Sim fazem.

Sócrates – E estes (população)

Meleto, Lícon, Anito – Também.

Sócrates – Ótimo então, todos fazem bem, exceto eu, oh, que grande desgraça descobrisse em mim, como fico triste em saber que somente eu sou pernicioso a essa juventude. Bem, deixa de lamentação, continuamos a ver a acusação. Não é verdade Anito, que de todos os cidadãos de Atenas somente alguns poucos sabem como cuidar de cavalos?

Anito – Sim, é claro.

Sócrates – E se aqueles que não possuem essa a habilidade poderiam, se puserem a cuidar deste ser vivo, causar ferimentos a este, sendo estas pessoas perniciosas a ele. Não é?

Anito – Bem... Logicamente.

Sócrates – Correto meu caro Anito, e se isso estender ao resto dos seres vivos, pergunto a você é correto afirmar que existem poucos que podem tornar nossos jovens virtuosos, pois a maioria somente os corromperia?

Anito – Não.

Sócrates – Por que não?

Anito – Porque... Porque.

Meleto – Juizes, Sócrates está tentando os enganar com suas falas.

Sócrates – Está equivocado meu caro Meleto, estou Aqui somente a questionar suas acusações, e mostrar a todos o quão elas são sem fundamento. Agora me diga Meleto, preferes viver entres os bons ou entre os maus?

Meleto – Entre os bons, logicamente.

Sócrates – Sim, certamente, então me responda se estou certo. Os bons fazem o bem a aquele que estão próximo deles e os maus dá mesma forma fazem o mau aos que estão próximo deles, não é?

Meleto – Sim.

Sócrates – Corrompo os jovens, Meleto, voluntariamente ou involuntariamente.

Meleto – voluntariamente.

Sócrates – Me explique então, por que eu, Sócrates cheguei ao grau de ignorância tal que fico próximo a aqueles que corrompo, sendo que estes são perniciosos a mim, como faço isso, e se faço isso devera ser involuntário, não?
Meleto – bem... Não sei... Acho que...

Sócrates – Pare de resmungar Meleto, ora nos dois casos mentistes, e se fosse mesmo o caso de ser involuntário, não merecia ser julgado, mas sim instruindo, pois aqueles que merecem julgamento são aqueles estão cientes do que fazem. Bem cidadãos de Atenas, já me defendi das acusações e sei que provei a todos que estas não procedem.

-a condenação-

Estudante – Nossa, como esse Sócrates era fera, mostro pra todo mundo que seus acusadores estão errados.

Clio – Então mocinho o que você acha que vai acontecer?

Estudante – Só podia ser loira mesmo, ué ele vai ser absolvido?

Calíope – Não meu caro Joãozinho ele vai...

Juízes – Sócrates, por duzentos e vinte votos a seu favor, contra duzentos e oitenta e um a favor dos acusadores, o declaro culpado, mas como a margem de votos contra fora pequena, Sócrates qual a pena que você escolhe?

Estudante – Mas duzentos e vinte mais duzentos e oitenta e um não são quinhentos e um, ali só tem quatro.

Professora - Joãozinho é apenas uma dramatização, e deixa de pergunta difícil.

Mnemósine – Mas veja Joãozinho, o que acontecera com Sócrates.

Estudante – É mesmo ele fora condenado, mas ele que vai escolher a sua pena, agora ele escolhe uma pena molezinha.

Clio – Será? Vejamos o que acontece.

Sócrates – Ateniense, se é para escolher um castigo digno de minha conduta. Durante todos esses anos em Atenas, se é para escolher a minha pena somente por falar a verdade diante de tudo e de todos, peço a vocês cidadãos de Atenas, que trate de mim durante o resto da minha vida no Pritaneu.

Estudante – ahm? E o que é Pritaneu, fessora?

Professora – Pritaneu era um lugar onde ficavam alguns beneméritos da pátria, ou seja, algumas pessoas que fizeram algo de importante para a cidade, lá ele eram alimentados à custa da cidade.

Estudante – hmmm.

Sócrates – Sim povo ateniense, não posso pelos deuses voltar atrás, toda vida dediquei a essa cidade sempre tentando lhe mostrar a verdade. E se vocês pensam que a morte é um castigo, estão errados, vocês é que serão castigados, condenados pela História como aqueles que mataram o justo Sócrates, tolos se vocês esperassem mais algum tempo, pela minha idade avançada o destino iria dar cabo da minha vida, mas não, deram ouvidos a estes falsos acusadores, tolos, se vocês acham que tenho medo da morte, erram novamente, o que tenho medo é de não ser um homem virtuoso, de vender a verdade a qualquer pressão, não compartilho desse mal que sim, este sim corrompe a cidade. Povo ateniense estarei muito melhor morto do que vivendo com mentirosos.

Juízes – ohhh

Sócrates – Povo ateniense, já imaginaram o que é a morte, essa coisa que causa medo a todos, parecendo que todos sabem justamente o que ocorre depois dela, já tentaram entende - lá, bem a morte só pode ser duas coisas:
Se depois de morto tudo acabar como aquelas noites de sono sem sonho, quer coisa mais agradável, vocês não trocariam muitos dias felizes de suas vidas por essas noites, agora imaginem isso eternamente.
Se depois de morto passarei para outro lugar, encontrando outros que já também fizeram essa passagem, quer coisa mais interessante. Imaginem-se dialogando com os grandes juizes, estes sim justos e verdadeiros. Mas chega de falar, já é hora de irmos: eu para a morte, e vós para viverdes. Mas, quem vai para a melhor sorte, isso é segredo, exceto para os Deuses.

Mnemósine, Calíope, Clio – E depois de algum tempo, Sócrates morre bebendo cicuta.

Estudante – Nossa eles matam ele igual os outros da caverna, tudo por que ele falou a verdade.

Professora – Sim Joãozinho, mas esses que o acusaram não tardaram de serem castigados.

Mnemósine – Meleto foi condenado à morte.

Calíope – Anito foi exilado em Heracléia, onde acabou lapidado pelo povo.

Clio – Lícon suicidou-se de desespero, esquecido por todos.

Professora – E até hoje muitos estudantes tratam os professores, como estes gregos trataram Sócrates.

-fim-

Nenhum comentário:

Postar um comentário